domingo, 30 de dezembro de 2012

ilibação torta

(the blood pours as rain and soon you'll be alone)

nas horas antes de completar o desenho, a peruca loira ainda não se ajustava no corpo dela. inútil a espera pelo tombo da peça deitada na mesa branca desembalada por três homens de narizes desfeitos. ali costumava ser o outro lugar onde vi seu rosto chuvado por uma dança cruel. como acontece nessas ocasiões apertei os olhos em um tempo inchado de meia chuva, se o cúmulo do retorno era o soro como esquecia os bilhetes comprados para o concerto grunge, o destino do chão de festa era as luzes estouradas jogando fora as pernas verdes de sapatos ensopados.
o carro velho de setenta e sete se encarregou da impotência dos olhos mal curados, a velocidade  rasgada amotinava um automóvel barulhento, sem fé na nossa magreza o balanço frio do pacote de fibra de vidro despistava a sua ereção alongada pelo medo. pela janela, a cidade amarela vinha dizer que o cachorro atropelado tinha de voltar para a enseada, mas não reconhecíamos o corpo quente  e peludo que agora coberto pelos sapatos avulsos ocupava o canto esquerdo. ela imagina e gagueja. empresta o casaco para o cão com o rosto ossudo, beija o tales que calado continua apostando no atrito com o asfalto.



2 comentários:

  1. Já te disse que adoro seus textos? mirabolantes na letra e na ideia!.. Roubei a ideia da imagem - um xibiu e o que ele me faz pensar no momento. O seu é mais corajoso. O meu é infantil e tímido. Mas, está lá. Um xibiu e o tempo. (e vc entre as linhas)

    ResponderExcluir
  2. Gabi! acho que nos metemos com a voltagem interpolada da linguagem quando escrevemos... adoro você vertida no demora pra riobaldo tatarana.

    ResponderExcluir