o osso que brota em uma boca de neném, megalítico em terra de mucosa o choro ondulado pela barulho da chuva, cabeça que brota cabelo, dentes, ecos gasosos da laringe. o retrato da bebê com o tórus palatino guardado, sem saber da chegada com cheiro de carlton e perfume de farmácia do cirurgião bucomaxilo, eleitor do collor
um dia a tia que desmaiava sempre ao sentir cheiro do boldo ou das bombas do golfo pérsico que via pela tevê não deixou o cirurgião raspar o osso,
gritou, tremelicou e o facho sumiu,
a bebê voltou para casa sem o arco côncavo, tudo ali dentro ainda era fusiforme
sem carniçaria a bebê cresceu,
gritei ao descobrir que minha mãe enfiava um tubo de nome cigarro na boca e morreria,
escrevi em mais de duzentas cartolinas, alarmes e poemas. nada.
o primeiro grito do ozzy que ouvi ecoou naquela montanha de nódulos ósseos agora gigantesco,
a dentista em berro, a mãe de olhos fixos no níquel que me devolvia a ela
naquele verão sem piscininha de plástico mudamos de cidade
escada rolante, dentista, otorrinos, guitarra, vodka, siouxsie, o cabelo rockabilly do amigo do vizinho
uma outra vida sem pato, pintinho, minhocas, coelhos, avó, eleição para vereador e um terror de festa agropecuária
cidade sem girinos. graças.
vi os dentes pontiagudos do saruê no dia três mil da pandemia.
um terror sem trauma:
sem aqueles bois pulando sob o grito de um palhaço de peruca azul na arena de um parque de diversões.
cidade com duas ponyos, filhas de uma mãe não aquática,
uma mãe que pula em piscinas olímpicas,
trupe sem escafandros,
vida sem fim.