uma filha de cabelos sem rumo
esvoaçante como a crina do cavalo inventado avança a paisagem sem luzes.
uma mãe debaixo de um teto azul recorta massinhas de modelar para o retábulo da filha,
aqui tudo vira ornamento: pote de água com papel crepom, colar de avó, carrinho minúsculo da china, papel toalha aquarelado do roxo mais marrom que existirá,
aqui tudo vira altar: choro estridente, peito sem leite, olho com remela verde.
subimos uma escadaria,
pulmões machucados e a filha com balões empunhados,
este caminho de amnésia, desenhos de planetas e o trinado do cavalo na boca da criança,
arrasto um cartão postal,
colo os últimos adesivos da guerreira de motonuí
não há carteiro, motoboy, nem renas,
arrasto a rua, a filha, o cavalo.
no chão de madeira velha
um vulcão esguicha gelatina vítrea,
a filha chama o pai, a mãe chama o homem de pernas de pau,
mas o pai foi procurar abacates maduros e sem bolor.
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