para o intrincado sertão não há geometria. a ressonância do tempo abatido pelo corpo crispado, pela pólvora fresca, pelas palpitações dos cavalos opera desconcertando traumas. a ficcionalização dos alívios redobra no baú quase infinito de enfrentamentos os reveses rigorosamente construídos que repontam das pontas de chapéus pousados no chão ao processo de avivamento das saudades.
"Ânsias, ver aquilo. Alt’ –e-baixos — entendendo, sem saber, que era o destapar do demônio — os cavalos desesperavam em roda, sacolejados esgalopeando,
uns saltavam erguidos em chaça, as mãos cascantes, se deitando uns nos outros,
retombados no enrolar dum rolo, que reboldeou, batendo com uma porção de
cabeças no ar, os pescoços, e as crinas sacudidas esticadas, espinhosas: eles
eram só umas curvas retorcidas! Consoante o agarre do rincho fino e curtinho,
de raiva — rinchado; e o relincho
de medo — curto também, o grave e rouco, como urro de onça,
soprado das ventas todas abertas. Curro que giraram trompando nas cercas,
escouceantes, no esparrame, no desembêsto — naquilo tudo a gente
viu um não haver de dôidas asas. Tiravam poeira de qualquer pedra! Iam caindo,
achatavam no chão, abrindo as mãos, só os queixos ou os topetes para cima, numa
tremura. Iam caindo, quase todos, e todos, e todos; agora, os de tardar no
morrer, rinchavam de dôr — o que era um gemido
alto, roncado, de uns como se estivessem quase falando, de outros zunido
estrito nos dentes, ou saído com custo, aquele rincho não respirava, o bicho
largando as forças, vinha de apertos, de sufocados." (Grande sertão: veredas, p. 355-56)
Grande ser : tão veredas...
ResponderExcluirGabi! nunca me esquecerei da sua mensagem-posfácio 'bem vinda à humanidade dos avessos...'
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